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Foto: Divulgação

Nesta terça-feira (8 de agosto), foi lançado em Curitiba o documentário “Não Respire – Contém Amianto”. O filme, que foi exibido no auditório do Ministério Público do Trabalho no Paraná, faz uma investigação detalhada da indústria do amianto no Brasil e conta a história de trabalhadores que foram expostos ao minério e desenvolveram graves doenças pulmonares.

O documentário é uma produção da ONG Repórter Brasil, com direção de André Campos, Carlos Juliano Barros e Caue Angeli. “Não Respire – Contém Amianto” foi o vencedor na categoria Voto Popular da competição latino-americana da 6ª Mostra Ecofalante de Cinema Ambiental, realizada em junho.

Ao longo de 70 minutos, o filme traz depoimentos de familiares e trabalhadores que, após sofrerem com doenças pulmonares incuráveis, decorrentes da exposição ao amianto, foram induzidos a assinar acordos irrisórios para silenciar ações judiciais contra as empresas. O documentário também mostra como a indústria brasileira do amianto age para vender a imagem de que o tipo de minério usado na produção de telhas no país (chamado de “amianto crisotila”) não é tão perigoso.

Para convencer a opinião pública de que é possível usar o amianto crisotila de forma segura, a indústria investe em marketing, financia pesquisas científicas e doa grandes somas para campanhas políticas, mostra o filme.

Após a exibição do documentário, houve um debate com a participação do diretor Carlos Juliano Barros (Caju); Margaret Matos de Carvalho, procuradora do MPT-PR; Saint-Clair Honorato Santos, procurador de justiça do MP-PR; Herbert Fruehauf, presidente da Associação Paranaense dos Expostos ao Amianto (Aprea); Ubiratan de Paula Santos, pneumologista e pesquisador da USP; e Maurício Ramos, diretor de criação da Agência Social Ideias.

Caju destacou que a discussão sobre o amianto no Brasil é tardia. “Quando conversamos com pessoas de outros países, elas se impressionam com o fato de que o amianto ainda é permitido no Brasil. É um assunto que em outras partes do mundo já é líquido e certo, e aqui ainda estamos patinando sobre as mesmas justificativas esdrúxulas que vêm se arrastando há bastante tempo”, afirmou.

Para o diretor Caju, a desinformação ainda é grande no Brasil; ele diz que boa parte das pessoas sequer sabe o que é o amianto, e outra parte acha que o material já foi banido no país. No Brasil, o uso do amianto é proibido nos estados de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Pará, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e São Paulo. No mundo todo, 66 países já baniram o amianto.

 

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Foto: Clínica Jurídica de Direitos do Trabalho

“O uso da linguagem cinematográfica como forma de comunicação e expressão é uma iniciativa importante para dar visibilidade à gravidade dos riscos do uso amianto no Brasil, cujas imagens inspiram reflexões para toda a comunidade sob a temática dos direitos das vítimas e dos expostos ao amianto”, ponderou Sidnei Machado, professor de Direito da UFPR e coordenador do projeto de extensão de Direitos Humanos relacionados ao amianto.

O lançamento do documentário em Curitiba acontece em uma data oportuna, já que no dia 10 de agosto, o Supremo Tribunal Federal fará o julgamento de um conjunto de ações relacionadas ao amianto.

O presidente da Aprea, Herbert Fruehauf, ressaltou a importância da decisão que será tomada nesta semana no STF. “Nós temos que ser firmes e fortes para tocar essa luta. Eu quero chegar com vida para ver o fim do amianto no Brasil, e espero que seja na quinta-feira”, disse Fruehauf, que também foi exposto ao amianto ao trabalhar por cinco anos em uma fábrica da região de Curitiba.

Para a procuradora regional do Trabalho, Margaret Matos de Carvalho, o filme cumpre o papel de informar à população sobre os perigos do amianto – que causa doenças não só em funcionários da indústria, mas em muitos trabalhadores da construção civil. “O desconhecimento é geral. A falta de informação é proposital, para que nós não saibamos o que de fato pode acontecer, e a indústria seguir comercializando esse produto”, afirmou.

 

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