A Rede Paranaense de Comunicação, afiliada da Rede Globo, exibiu em 21 de maio uma reportagem especial sobre a “rotina pesada dos motoboys durante a pandemia”. Por mais de cinco minutos, em horário considerado nobre na grade de programação, a matéria retratou as condições desses trabalhadores e utilizou dados da pesquisa científica da Clínica Direito do Trabalho da UFPR sobre o tema, realizada no ano passado.

Em 2020, os pesquisadores da UFPR, em parceria com a Rede de Estudos e Monitoramento da Reforma Trabalhista (Remir), investigaram a situação dos entregadores via plataformas digitais na crise sanitária.  

Os resultados foram obtidos a partir de 298 questionários online, respondidos por trabalhadores que atuam através dos principais aplicativos em operação no Brasil, tais como Rappi, Ifood, James, Uber Eats, 99 Food, entre outros. Participaram entregadores de 29 cidades, com concentração em São Paulo, Curitiba, Belo Horizonte e Recife.

A pesquisa apontou que na pandemia houve aumento de 57% para 62% dos entregadores que declararam trabalhar mais de nove horas diárias. “Para conseguir bater nossa ‘metinha’, a gente acaba ficando até meia-noite, uma da manhã”, afirmou Edi Mori à reportagem da RPC. O profissional tem 25 anos e atua como entregador há dois. Formado em mecatrônica industrial, encontrou nos aplicativos uma forma de driblar o desemprego.

Não bastassem as longas jornadas diárias, a pesquisa revelou que a maioria desses trabalhadores (78,1%) exerce a atividade de seis a sete dias por semana e ainda sofreu redução nas remunerações durante a pandemia.  “Houve uma situação bem paradoxal que nós identificamos na pesquisa, que foi de aumento na demanda, redução na renda e ampliação da jornada ao mesmo tempo. Isso está relacionado às novas contratações na crise sanitária, provocando diminuição das chamadas para entregas. Assim, os entregadores tendem a trabalhar mais horas para tentar manter a remuneração”, explica Sidnei Machado, professor da UFPR e coordenador da Clínica Direito do Trabalho. 

Apenas no primeiro mês da pandemia, conforme a reportagem, o número de entregas saltou 40% em Curitiba. Dados oficiais mostram que existem 120 mil entregadores em atividade no Paraná, mas a quantidade pode ser maior, uma vez que somente os registrados em carteira são contabilizados.    

Na análise dos questionários, os pesquisadores constataram que 59% dos entrevistados disseram que a renda diminuiu após o início da pandemia, dado enfatizado na reportagem da RPC. “Para você ter uma ideia, em 2017 a taxa mínima de entrega era de R$ 9 ou R$ 10. Hoje está entre R$ 3,50 e R$ 5”, reclamou o entregador Sidnei Lourenço, de 53 anos e que há 18 está no ramo. Para ele, os aplicativos prejudicaram a profissão. “Quando eu comecei não existiam as plataformas digitais. Você negociava direto com o empresário da pizzaria, do restaurante, da hamburgueria”.

A solução imediata para frear a precarização das condições de trabalho dos entregadores, conforme afirmou o coordenador da Clínica à RPC, seria “reconhecer que se trata de um trabalho assalariado, ou seja, com direito a registro em carteira”.

Outros pontos nocivos à situação dos profissionais de entregas citados na reportagem são os riscos de acidentes (40% das pessoas que morreram no trânsito de Curitiba em 2020 eram motociclistas – Fonte: Prefeitura) e o preconceito da sociedade. “Qualquer motoboy é tratado como se fosse bandido”, disse um trabalhador não identificado. “As pessoas ficaram dentro das suas casas e nós ficamos correndo risco de morte para atender essas pessoas. Então, queria que a sociedade olhasse a gente com outros olhos”, protestou o entregador Sidnei Lourenço.

Assista à reportagem: https://globoplay.globo.com/v/9536977/

Confira o artigo científico da pesquisa: http://www.revistatdh.org/index.php/Revista-TDH/article/view/74

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